Centro de documentação
e arquivo feminista
elina guimarães
Das mulheres e da memória: reflexões em torno de um livro
Maria Alice Samara
Foi com muito gosto que aceitei o convite da Teresa Salles para a apresentar o livro As mulheres nas crise académicas durante a ditadura, editado no âmbito do projeto Memória e Feminismos III: a desocultar quotidianos das mulheres, numa edição da UMAR (União das Mulheres Alternativa e Resposta). Acho muito interessante e gosto particularmente desta vontade de desolcultar, de trazer para a luz.
Este belíssimo livro conta não só histórias de vida de mulheres (ou uma parte destas histórias de vida, que são mais ricas e densas, claro está.), como nos permite ter acesso a uma recolha de documentos inéditos, que contribuem para uma melhor compreensão da história contemporânea. Neste aspecto, é um livro fundamental para todos os que se interessam por este período, pela história da oposição ao Estado Novo e, ainda, pela história das mulheres. De realçar o CD que faz parte desta publicação: o som do dia da universidade em 1965 e, ainda, por exemplo, a fotografia de capa, uma concentração de estudantes em 1963. Na primeira fila podemos ver (e ver é desocultar) Graça Cabeçadas e Maria Augusta Seixas.
Este livro é o resultado de um seminário no qual se debateu a questão da participação das mulheres nas crises académicas, na década de 60 (1962, 1964-65 e 1969) e inícios de 70. O despertar político dos estudantes vinha de trás, por exemplo com a “luta contra o 40.900” (Diana Andringa, pág. 57) e registava-se uma crescente politização. A Universidade constitui-se, sem dúvida, um importante polo de oposição ao regime. Diz Miguel Cardina: “Quando se chega a 1969, uma parte considerável da juventude universitária encontra-se já em claro processo de ruptura com o regime.” Queria salientar o aspecto de juventude: os novos contra um regime repressor, que era sentido como velho, pesado, cinzento.