Centro de documentação
e arquivo feminista
elina guimarães
Deolinda Lopes Vieira (1888 - 1993)
Deolinda Lopes Vieira nasceu em Beja, onde permaneceu até aos 12 anos de idade, altura em que partiu para Lisboa com os seus pais. Desde aí, viveu sempre na capital, excepto entre 1913 e 1915, período em que esteve no Brasil acompanhando o companheiro, Pinto Quartim, jornalista anarco-sindicalista que havia sido expulso de Portugal.
Espírito desassossegado, desde cedo se interessou pelos problemas sociais.
Entusiasmada pelas leituras de Tolstoi, Kroptkin e Faure, entre outros, e influenciada pela ideologia anarquista e republicana integrou diversos movimentos sociais. Interveio, quando era aluna da Escola Normal, na greve académica de 1907 contra o ditador João Franco, participou em órgãos sindicais e em diversas actividades de âmbito cultural e pedagógico. Desenvolveu também intensa colaboração em vários jornais e revistas pedagógicas, defendendo o seu ideário feminista, republicano e libertário.
Em 1923, iniciou-se na Maçonaria, integrando a Loja Humanidade do Direito Humano.
Com especialização no ensino infantil, grande parte da sua actividade profissional foi desenvolvida na Escola Oficina N.º 1, que as filhas Orquídea Quartim (pianista) e Glicínia Quartim (actriz) e o filho Hélio Quartim (desenhador) também frequentaram. Esta escola de orientação maçónica foi impulsionadora das correntes pedagógicas libertárias e de práticas solidárias que a Ditadura, instaurada com o golpe de 28 de Maio den1926, não pôde permitir. Deste modo, Escola Oficina N.º 1 veio a ser encerrada por este governo ignóbil e Deolinda Lopes Vieira passou a leccionar no ensino oficial.
No seu labor associativo e feminista, integrou o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas desde a sua criação por Adelaide Cabete em 1914 e, em 1924, fez parte da Comissão Organizadora do I Congresso Feminista e de Educação onde apresentou a tese Educação de Anormais. No II Congresso, realizado em 1928, abordou a Escola Única de que era uma acérrima defensora, revelando uma forte oposição às políticas educativas da Ditadura. Aí defendeu que ” A intenção social da Escola Única (…) é estabelecer para todos a mesma escola, sem distinção de classes sociais ou de sexos (…)” (Alma Feminina nº 3, 1928, p.28).
Após uma pausa, Deolinda Lopes Vieira voltou a aderir ao CNMP em 1945, onde se manteve até à sua extinção pelo Estado Novo, em 1947. Faleceu em Lisboa com quase 105 anos de idade.
Manuela Góis
1) 4(?)/7/1888 – 6/6/1993 – data que consta do registo do Cemitério de Benfica