Centro de documentação
e arquivo feminista
elina guimarães
Memórias e Feminismos IV
Os Lugares e os Saberes
Introdução
Esta é a quarta edição de um projeto mais vasto em que nos comprometemos a recolher e a analisar histórias de vida de mulheres do nosso país. Madeira e Minho, região de Coimbra e Setúbal, Alentejo e Açores – são já mais de meia centena de histórias de vida recolhidas.
Estas histórias de vida têm vindo a ser analisadas tendo em consideração os trajectos emancipatórios das mulheres em várias dimensões que se cruzam: a mobilidade social que é feita por estas mulheres à custa de muitos sacrifícios para ultrapassar as barreiras impostas pelas comunidades de origem; a sua inserção em novas profissões; a alteração nos seus quotidianos; a valorização educacional; a contribuição para a construção do sujeito colectivo feminista; os silêncios não só na perspectiva do que não é dito, mas dos atos que substituem as palavras.
Os workshops realizados no anterior projecto com a participação de investigadoras e de mulheres com quem se trabalhou as histórias de vida vão ter nesta edição as suas consequências com a publicação de análise dessas histórias, que não foi possível mais cedo pelos atrasos decorrentes do trabalho nos Açores onde foi necessário trabalhar com mulheres de várias ilhas.
Desta vez, pretendemos abarcar as aldeias da região de Lafões (Viseu) e uma urbanidade também a Norte – a região do Porto.
O lema será – os lugares e os saberes – porque a vida de muitas das mulheres, em especial das zonas rurais, são marcadas pelos lugares onde nasceram e nos quais permaneceram, sózinhas, com maridos e filhos emigrados, na labuta da terra e do gado, acumulando saberes pouco conhecidos.
Dado a região do Porto integrar uma grande cidade, a recolha das histórias de vida incidirão sobretudo nas margens da grande cidade cosmopolita. Pretende-se também saber de que forma mulheres da região do Porto que vivem em bairros sociais conseguiram ou não romper circunstâncias de guetizaçao e afirmar-se num tecido social mais vasto, ou ainda aquelas que, tendo origem em zonas rurais, romperam com muros impostos pela interioridade e se misturaram na malha urbana de uma grande cidade.
Deste modo, pretende-se saber se os lugares de origem marcaram ou não a vida de muitas mulheres e de que forma os fatores de mobilidade social foram ou não emancipadores. Ou, ainda, como é ou não possível que exista consciência feminista, embora não assumida e declarada, nas vozes de mulheres que vivem nas aldeias deste país, em pleno século XXI. Que fatores terão contribuído para a formação dessa consciência? Fatores intrínsecos às vivências e à reflexão sobre as mesmas? Fatores externos? Estas e outras questões serão decerto debatidas e analisadas na fase final deste projeto que tem esta faceta inovadora em relação aos anteriores projetos.