Centro de documentação
e arquivo feminista
elina guimarães
Projeto a Idade e o Género. Até onde vai o preconceito?
Apresentação da terceira sessão do projeto “A idade e o género. Até onde vai o preconceito”
No dia 27 de julho de 2021 realizou-se, às 18h, a terceira tertúlia online do novo projeto da UMAR, ‘A idade e o género. Até onde vai o preconceito?’, que conta com o apoio financeiro da pequena subvenção da CIG – Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género.
Esta sessão, com o tema ‘As feministas e o envelhecimento’, foi transmitida pela plataforma Zoom e beneficiou de um enorme diálogo entre as oradoras e o público. Contou-se com as intervenções de Irene Pimentel (doutorada em História Institucional e Política Contemporânea pela NOVA FCSH e investigadora do Instituto de História Contemporânea da NOVA FCSH), Liliana Rodrigues (Presidente da UMAR e investigadora na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto) e Manuela Tavares (investigadora integrada no Centro Interdisciplinar de Estudos do Género no ISCSP e coordenadora do Centro de Documentação e Arquivo Feminista Elina Guimarães).
Em anexo deixamos os textos de Liliana Rodrigues, Manuela Tavares e transcrição da intervenção de Irene Pimentel, bem como apontamentos das intervenções do público, de particular relevo para o entendimento desta temática.
Feminismos e Envelhecimento
Projeto da UMAR: Género e Idade, até onde vai o preconceito?
Manuela Tavares
Membro da direção da UMAR
Membro da direção do CIEG
Centro Interdisciplinar de Estudos de Género (ISCSP)
O envelhecimento dos corpos e dos rostos assume uma diversidade de situações.
Vírginia Woolf (1882-1941 ) afirmava no seu Diário em 1931 : “Às vezes sinto que já vivi 250 anos, outras vezes sinto que sou a pessoa mais jovem da carruagem”1
Simone de Beauvoir escrevia em 1963: “Que tempo é esse, que não tem forma nem substância, que me pode esmagar com um peso tão grande que não consigo mais respirar”.2
Simone de Beauvoir estava convencida que quem sofria mais com o envelhecimento eram os homens. As mulheres envolviam-se mais com as crianças e tinham muitas coisas a fazer, por isso não se sentiam tão em baixo como os homens. Estes tinham um trauma narcisístico, em especial quando não podiam ter um desempenho sexual satisfatório. Para ela, as mulheres podiam tirar maior prazer sexual do que quando eram novas, se fossem estimuladas. A enorme ansiedade dos homens em relação às suas capacidades eréteis vacilantes, à medida que envelheciam, tinha muito mais força do que o medo das mulheres de fracasso sexual. 3 Muitas críticas feitas a Simone de Beauvoir eram no sentido de ela esquecer as vidas das mulheres comuns. Contudo, na sua obra The Woman Destroyed (1967)4, ela fala da vulnerabilidade das mulheres velhas e abandonadas pelos maridos, a terem de enfrentar o processo solitário do envelhecimento.
Feminismos e Envelhecimento
Projeto da UMAR: Género e Idade, até onde vai o preconceito?
Transcrição do áudio de Irene Pimentel
Tertúlia Online por Zoom, “As Feministas e o Envelhecimento”, Terça, 27 de julho de 2021, 18h
Quando a Manuela Tavares me convidou estive quase para dizer “Que raio de tema de discussão!”. A simples questão de pensar que é um “raio de tema” já nos coloca em pleno no assunto do Feminismo e a Velhice.
Nós esquecemo-nos que iríamos envelhecer. Fomos muito ativas, especialmente as feministas dos anos 70. Fomos muito ativas durante todo o tempo e esquecemo-nos que esse aspeto iria ocorrer. Eu também li um pouco a Lynne Segal, e há uma coisa que ela diz que eu acho muito interessante. Ela tenta dar soluções. Nós não vamos aqui resolver a questão do mundo, mas [em] tudo o que eu tenho lido, o feminismo tenta, de facto, sempre dar algumas soluções. Muitas vezes é às apalpadelas. Não sabemos bem como é que vamos fazer. Uma das questões que ela coloca é que nós nos habituamos ao coletivo. Habituámo-nos a conhecer muitas pessoas, a discutir, a participar em manifestações, conferências, intervenções e, muitas vezes, na velhice isso começa a ser mais difícil. O que não quer dizer que seja impossível!
Feminismos e Envelhecimento
Projeto da UMAR: Género e Idade, até onde vai o preconceito?
Apresentação de Liliana Rodrigues – As feministas e o envelhecimento (pdf) »»
Sessão Envelhecimento e Feminismos – Participação da Audiência
Transcrição:
Guida Vieira
Eu tenho uma mobilidade, uma genica um bocado natural e apresento-me como uma mulher que parece que tem menos idade. Então, é natural que os homens me abordem como se eu tivesse 60 anos. Para eles, quando me vêm abordar é como se eu tivesse 60 anos. Eu delicio-me a ver depois a cara que eles ficam quando eu digo que tenho 71, por exemplo. É uma maravilha, eles ficam completamente mudos. E,, depois, os mais inteligentes que já têm a resposta decorada dizem: “a idade não é problema. A idade é uma questão de mentalidade!”. Portanto, esses são aqueles, que já decoraram a frase para dizer acerca da idade.
Sessão Envelhecimento e Feminismos – Participação da Audiência
Transcrição:
Ana Sara Brito
Eu vou fazer a primeira provocação. É bom para uma pessoa mais velha como eu, que devo ser das mais velhas que estamos aqui a falar hoje com 80 anos, ver uma cara bonita, nova (refere-se a Liliana Rodrigues). Porque para velhas chego eu, não é? Não! vejo-me bem ao espelho…também não tenho que ter rugas, mas voltando agora ao tema envelhecimento.
Minhas caras amigas, concordo com a Guida, também não gosto da palavra ‘idoso’ porque não há ‘idosidade’; há envelhecimento. Nós para nascer envelhecemos, temos que esperar cerca de, normalmente, 9 meses para nascer; entre os 7 e os 9 para nascer. Podemos nascer antes, mas o termo é 9 meses. Logo que nascemos, queremos viver. Ora, envelhecer é viver a vida. Envelhecer é viver a vida!