Centro de documentação
e arquivo feminista
elina guimarães
Seminário Final Múltiplas Discriminações II
O Seminário final do projeto Múltiplas Discriminações II, realizado no dia 6 de julho de 2019, na Junta de Freguesia de Alcântara, marcou o fecho de um percurso riquíssimo para o qual contribuíram numerosas pessoas. Durante sete meses, foram ouvidas e analisadas diversas histórias de vida de mulheres, sob a forma de sessões e tertúlias temáticas.
Nas duas últimas edições deste projeto, o enfoque foi colocado no estudo e análise de grupos alvo de marginalizações e múltiplas discriminações como opressões de classe, género, etnia, regionalismo, deficiência e outras. Esta última edição partilhou histórias de vida de mulheres negras e afrodescendentes, mulheres do interior rural, mulheres trabalhadoras domésticas e de limpeza, e mulheres com deficiência.
Com uma assistência que não arredou pé ao longo de um sábado inteiro, assistiu-se a mais de dezoito intervenções seguidas de debate, em quatro painéis temáticos: mulheres com deficiência, mulheres negras e afrodescendentes, mulheres do interior e mulheres trabalhadoras domésticas e de limpeza.
No primeiro painel, Manuel Ralha apontou, como questão mais proeminente, a necessidade de se estudar e dar visibilidade à “exclusão invisível” de que as mulheres deficientes ainda são alvo. Lia Ferreira, Patrícia Santos, Helena Alves e Paulo Pinto, com a moderação de Olímpia Pereira, enriqueceram a sessão com informação científica e pessoal sobre questões que atingem mulheres com deficiências: sofrem a maior taxa de desemprego entre as mulheres; são presas fáceis para o assédio no local de trabalho; e enfrentam mais problemas na esfera doméstica e mais vulnerabilidades e exclusões nas relações de intimidade.
No segundo painel, as intervenientes Ana Paula Costa, Lúcia Furtado e Myriam Taylor trouxeram para reflexão temas e conceitos fulcrais como os da invisibilidade das mulheres negras nos movimentos feministas brancos e europeus, a relação entre racismo e machismo e a exclusão e rejeição da mulher negra enquanto sujeito social. Foi sublinhada a importância da criação de redes coordenadas para as lutas comuns a todas as mulheres, e a moderadora, Joana Sales, salientou o trabalho da UMAR nesta área: sobretudo ao longo dos últimos dois anos, a organização tem trabalhado lado a lado com mulheres negras, emigrantes e ciganas para se analisarem, sem quaisquer preconceitos, as feridas, a amnésia do passado colonial e o racismo estrutural existente.
No terceiro painel, Ana Rita Trindade, Ana Paiva, Lúcia Jorge, Cristina Bandeira e Manuela Tavares abordaram os problemas da desigualdade de educação e de oportunidades entre homens e mulheres, os quais são agravados quanto a esta dicotomia se junta a do interior/litoral, devido à desertificação das zonas rurais do país.
No último painel, com a presença de Inês Brasão, Manuel Abrantes e Margarida Coelho, a ênfase foi colocada na necessidade de se recolherem e estudarem memórias da vida e do trabalho doméstico feminino, assente numa cultura de obediência de certos grupos sociais face a outros e na falta de reconhecimento social, ainda hoje existente, destas ocupações e profissões.
Para Teresa Sales, coordenadora do projeto Memórias e Feminismos, parar por aqui não é uma opção, uma vez que o sucesso do trabalho realizado ao longo destes anos demonstra a necessidade de explorar temas como o da memória histórica dos feminismos, bem como trazer para a agenda feminista toda a diversidade e pluralidade da vida das mulheres. Por isso mesmo, um novo projeto sobre a diáspora das Mulheres Cabo Verdianas em Portugal já começa a ser desenhado pela UMAR.