Simone de Beauvoir, o feminismo de segunda vaga e o Maio de 68
Manuela Tavares
Três décadas após a morte de Simone de Beauvoir não podemos deixar de reflectir sobre os contributos do seu pensamento para a segunda vaga dos feminismos, que surgiria duas décadas após a publicação de O Segundo Sexo (1949).
Surgindo do coração das revoltas estudantis do Maio de 68, o Movimento de Libertação das Mulheres em França assume as mesmas concepções de contestação à ordem estabelecida: o estilo espectacular e “provocatório”, o clima de festa da contestação, a transgressão, as formas de democracia directa. Contudo, aponta o dedo à “divisão sexual do trabalho militante” e à marginalização dos problemas mais específicos das mulheres. Reclama a politização do “privado” e a libertação de todas as opressões incluindo a do poder masculino. A participação de uma nova geração de mulheres no Maio de 68 coloca a contradição entre o seu papel na base do movimento, nas tarefas tradicionais e os jovens que fazem os discursos. Elas organizam creches nas universidades assim como as mulheres em greve nas fábricas reclamam creches e “salário igual para trabalho igual”. A onda de choque de 68 atravessou as associações de mulheres da época, formando-se novos grupos em ruptura com algumas das concepções das sufragistas, tal como Simone de Beauvoir tinha feito no Segundo Sexo.